terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Vega: "Bravo Europa!"

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Ontem (13), ocorreu com sucesso o primeiro voo do lançador europeu Vega, colocando dois satélites científicos e sete picossatélites em órbita, a partir de Kourou, na Guiana Francesa. Com este sucesso, a Arianespace, operadora do foguete, passou a contar com uma família completa de lançadores, capaz de pôr no espaço cargas úteis de pequeno a grande porte em órbitas baixa, geoestacionária e missões de espaço profundo.

Em nota, Jean-Yves Le Gall, presidente da Arianespace, afirmou: "Bravo Europa! Parabéns à Agência Espacial Europeia, à Agência Espacial Italiana, ao Centro Nacional de Estudos Espaciais e a todos os nossos parceiros industriais. Este sucesso vem depois de 9 anos de desenvolvimento cooperativo. Bem feito, Europa!"

Um pouco sobre o Vega

O desenvolvimento do Vega (Vettore Europeo di Generazione Avanzata) durou cerca de nove anos e exigiu investimentos de cerca de 710 milhões de euros, com a Itália se responsabilizando por aproximadamente 60% desse valor. A italiana Avio, que ofereceu o desenvolvimento conjunto de um novo lançador com o Brasil (ver a postagem "Lançadores: a proposta da Avio"), atuou como "prime contractor" do programa.

Embora seja um novo projeto, o quarto estágio do Vega, de propulsão líquida, é de origem ucraniana, desenvolvido pela Yuzhnoye. Há a expectativa de que a Alemanha, antes reticente ao projeto e agora animada com as razoáveis perspectivas comerciais, passe a participar com o desenvolvimento de um substituto ao estágio ucraniano. Estima-se que exista um mercado potencial na próxima década para até cinco satélites anuais dentro da capacidade do Vega (até 1.500 kg em órbitas de 700 km de altitude).

É dentro desta categoria que se encaixa o satélite de observação terrestre Amazônia-1, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), previsto para ser lançado em 2013 ou início de 2014, e que deverá ter seu lançador definido em breve.

Avio e Cyclone 4

O quarto estágio da Yuzhnoye no Vega não é a única conexão entre italianos e ucranianos em matéria de lançadores. Poucos se recordam, mas em dezembro de 1997, a Avio foi quem liderou o início dos entendimentos com o governo brasileiro para a realização de voos do Cyclone 4 a partir de Alcântara, no Maranhão. Na época, a empresa italiana mantinha uma parceria com a Yuznhoye para o desenvolvimento e operação do lançador ucraniano. Em 7 de abril de 1998, a Infraero, designada para as negociações, assinou com a Avio e empresas ucranianas um memorando de entendimentos alinhando as bases para a constituição de uma joint-venture para a exploração comercial de Alcântara. Haveria, inclusive, um cliente em potencial: a Motorola (constelação de satélites Iridium).

Em artigo sobre a criação da empresa binacional Alcântara Cyclone Space, José Monserrat Filho narra o descontentamento do governo dos Estados Unidos com a assinatura do memorando: "Consultado pela própria Motorola, o Departamento de Estado norte-americano, porém, não só vetou o projeto como aconselhou o Governo da Itália, através de um "non paper", a fazer o mesmo. Para os EUA, o Brasil, ao insistir na construção de seu Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), é um potencial proliferador de tecnologia de mísseis; logo, não merece confiança, embora já dispusesse da legislação de controle de exportação de equipamento sensível e fosse membro do MTCR (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis) desde 1996. A pressão logrou o que queria. A Fiat Avio desistiu da idéia do consórcio com o Brasil. As negociações sobre o projeto foram suspensas."

O impasse foi superado após intensas negociações e a assinatura de um acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA, jamais ratificado. No entanto, antes disso, os italianos optaram por seguir outro caminho e, em parceria com outros países europeus, lançaram o projeto do Vega.
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