quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Sobre o resultado do Programa F-X2

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Não iremos nos alongar sobre o resultado do Programa F-X2, conduzido pela Força Aérea Brasileira (FAB), para a seleção de uma nova aeronave de combate, e cujo resultado, após mais de uma década de indefinição, foi anunciado hoje (18). O blog Panorama Espacial tem como enfoque principal as atividades espaciais, muito embora, eventualmente, acabe tratando de temas relacionados, como assuntos de defesa [*]. E não podemos nos furtar a abordar o resultado do F-X2. O escolhido foi o caça Gripen E/F, desenvolvido pelo grupo sueco Saab (veja aqui a nota do Ministério da Defesa).

No âmbito espacial, dos três candidatos (Saab, Boeing e Dassault), a Saab era a que tinha menor exposição no setor espacial; em julho de 2008, o grupo vendeu sua divisão espacial, que desenvolvia e fabricava componentes de satélites e de lançadores (inclusive para o Ariane 5), para a suíça RUAG. No entanto, isto não significa que o resultado do F-X2, de alguma forma e ainda que indiretamente, não vá beneficiar o Programa Espacial Brasileiro. Como parte do contrato, que começará a ser negociado, haverá um grande pacote de transferência tecnológica e compensações industriais, tecnológicas e comerciais (os chamados offsets).

Espaço não deve ser um dos itens de compensação, mas algumas das indústrias nacionais hoje envolvidas com atividades espaciais também têm negócios nos setores aeronáutico e de defesa e podem ser beneficiadas no processo de transferência tecnológica que, acredita-se, será um dos maiores já realizados no País. Dependendo da tecnologia, pode haver alguma aplicação no campo espacial.

Ainda, em termos de política industrial, convém relembrar a recente entrevista de José Raimundo Braga Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira, que destacou "a necessidade de que a indústria espacial brasileira busque diversificação com outras atividades para atingir um nível de sustentabilidade". O F-X2, porque não, pode vir a funcionar como um dos itens de diversificação.

Mas, o resultado imediato mais importante do F-X2 é a credibilidade que passa para a comunidade internacional de que o Brasil está levando a sério suas demandas em defesa (e, espera-se, também em espaço!). Num período de menos de uma semana, duas notícias importantes: a assinatura dos contratos do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) e, agora, a seleção do Gripen na concorrência da FAB. Sabemos da grande expectativa com o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) e também de outras demandas espaciais, e essas recentes notícias, ao nosso ver, reforçam a credibilidade brasileira frente a atores estrangeiros.

Portanto, a conclusão: acreditamos que, de alguma forma, o F-X2 beneficiará (ou poderá beneficiar) o Programa Espacial Brasileiro.

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*: escrevendo sobre defesa e espaço há mais de dez anos, eu não tive como não me envolver com o F-X2. Inclusive, voei em maio de 2012 a bordo de uma das aeronaves candidatas, no caso, o F-18 F Super Hornet. No início de 2011, também estive na Suécia para conhecer mais sobre a proposta da Saab para a licitação da FAB. A viagem deu origem a um suplemento especial de Tecnologia & Defesa, que pode ser acessado clicando aqui
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