quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sobre a nota da ACS postada no início da semana

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No último dia 13, publicamos uma nota com notícias sobre a binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), na qual informamos que o "Cyclone 4 contém alguns componentes críticos de origem russa [...]". Sergiy Guchenkov, diretor comercial da ACS, entrou em contato com o Panorama Espacial para dizer que a informação não é verdadeira. Reproduzimos a seguir o seu e-mail, na íntegra, e posteriormente fazemos comentários adicionais:

"Prezado Mileski,

Sou leitor do seu blog Panorama Espacial, que acho uma fonte interessante e respeitável de informação. Porém, na postagem mais recente sobre a ACS (http://panoramaespacial.blogspot.com.br/2014/04/noticias-da-alcantara-cyclone-space.html), fui surpreendido com a seguinte afirmação:

“O Cyclone 4 contém alguns componentes críticos de origem russa”

Informo-lhe que isso não corresponde à verdade, pois o Veículo Lançador Cyclone-4 não contém quaisquer componentes russos, sejam críticos ou não. Peço o favor de publicar uma respectiva correção no seu blog. A crise atual com a Rússia não tem impactado o andamento do Projeto Cyclone-4, e amanhã postaremos uma atualização na seção Project Status com novas fotos, confirmando que o desenvolvimento do Cyclone-4 está de acordo com o cronograma, e que o mesmo estará pronto para entrega no Brasil na segunda metade do ano 2015.

Quanto ao acordo de salvaguardas Ucrânia-Russia, esse foi assinado para facilitar a cooperação dos dois países na área espacial. Como é de seu conhecimento, a Ucrânia lança alguns dos seus foguetes, como Dnepr e Zenit, a partir do território russo, e esse acordo serve também para proteção das tecnologias espaciais ucranianas na Rússia.

Respeitosamente,

Sergiy Guchenkov
Chief Commercial Officer
Alcantara Cyclone Space"

Comentários do blog: a informação de que o Cyclone 4 possui componentes de origem russa é oriunda de fonte ligada a própria ACS, obtida em 2010. Referida informação, aliás, é dada em alguns artigos e análises anteriores à concretização do acordo binacional (ver artigo "Russia-Brazil: a space partnership", publicado pela agência RIA Novosti em abril de 2007).

A propósito, a questão sobre os interesses russos no projeto do Cyclone 4 não é nova, havendo inclusive questões relacionadas à propriedade intelectual de componentes utilizados pelo lançador ucraniano (motor RD261 que equipa o 1º estágio do foguete, por exemplo). Neste sentido, recomendamos a leitura do relatório "Ukraine: space deal with Brazil uncertain", elaborado pelo governo americano e datado de 22 de dezembro de 2009, "vazado" pelo Wikileaks.

A Rússia e a Ucrânia integraram a União Soviética por várias décadas, havendo ainda hoje uma grande interdependência em diversos campos, com destaque para os setores aeroespacial e de defesa. Por coincidência, aliás, o assunto foi tema de uma detalhada análise no boletim da última semana preparado pela ADIT, firma francesa de inteligência estratégica, que deu mais ênfase à dependência russa do parque industrial ucraniano.
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